“Experimentar remorsos de consciência por todas as minhas manifestações
interiores e exteriores em meu estado de vigília ordinário, alternando com
sentimentos de solidão, de desilusão, de saciedade etc... mas sobretudo
enfrentar a aterradora sensação de vazio
interior que me perseguia por toda parte?...” (Gurdjieff)
Seria essa a árdua missão de todo
ser humano? Experimentar remorsos? Viver em permanente estado de solidão,
desilusão, saciedade? E mais: enfrentar o vazio abissal que nos rodeia?
Senão é a de todo ser humano,
pelo menos é a minha.
Esse vazio interior me persegue
por onde quer que eu siga. Não há jeito de escapar desses escapismos que me
dominam toda.
E dominada é que sigo sendo
chamada de louca.
Mas nem sempre foi assim.
Passei a vida em correnteza
ordinária, puritana, regrada. Sempre fui a melhor aluna da sala e até em
namoros sérios me envolvi. Promessas de grandes futuros dei aos meus pais em
tenros dias de idade juvenil.
Sonhava alto e fazia-lhes todas
as expectativas. Cumpria com tudo o que me era designado. Fiel cordeira fui, no
rebanho do sonho sombrio de meu pai e minha mãe.
Mas de um momento ao outro gritou
em mim o lobo uivante das montanhas. E feroz me lancei na busca de minha
independência.
E pude ver que livre não era
nada. Restava estampada em meu corpo a dependência da matéria, controversa. Então
me rasguei em experiências dilacerantes para fugir do rigor imposto.
E vivo ainda nessa fuga. Sem
ninguém que me rodeie, me proteja, me ajude. Todo grito é mudo e sai agudo no
calar de uma noite fria, para sempre esquecida na memória vitalícia da
humanidade.
Orfandade. Esta é a palavra que
mais me define no momento. Vazia e sozinha, ando a beira de mim mesma e para
cair no comum, vivo na ponta de um abismo.
Sobrevivo? Por ora digo que sim.
Só não sei se daqui por diante sigo até o fim.
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