terça-feira, 21 de agosto de 2012

Colher




"Quem você pensa que é?"
perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.”

Martha Medeiros

Não dei e não dou, não darei. Agache, esculache, grite, esperneie. Comigo agora não tem vez. Sou forte.

Tudo bem, pode ser que eu escorregue no meio do caminho e te ceda um pedaçinho, afinal de contas, as vezes, sou fraca e generosa.

Mas não queira, meu bem, sentir o gosto por muito tempo, e nem ter o doce na boca por toda a eternidade, porque nasci na orfandade e o doce é meu, só meu. Sim, sou egoísta e assumo, sem vergonha alguma.

Pode ser que em dias assim, de assumir o egoísmo, eu fique angustiada e mulher angustiada, você sabe como é, se torna perigosa, então nem queira chegar perto da colher.

Me trate então como uma criança, me tornarei infantil, e quem sabe com esse ardil, você conquiste algo de mim. Só não se esqueça: posso ser astuta quando me convém.

E já que está confuso e longe de me entender, vou te deixar mais calminho: se aproxime de mansinho, sem me deixar aflita, me pegue em um dia que esteja serena, me faça uma proposta daquelas bem indecorosas e quem sabe, lhe darei um teco da colher.

Mas não se engane, ainda sou mulher. E como sabe toda fêmea é inconstante. E eu ainda sou mais, pois que sou persistente em minha inconstância de ser inconstante.

É por isso, meu querido, por eu ser assim, sensata e corajosa, que repito, por ora, se afaste, pois, por enquanto, eu não lhe dou essa colher.

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