"Quem você pensa que é?"
perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.”
perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.”
Martha Medeiros
Não dei e não dou, não darei.
Agache, esculache, grite, esperneie. Comigo agora não tem vez. Sou forte.
Tudo bem, pode ser que eu
escorregue no meio do caminho e te ceda um pedaçinho, afinal de contas, as
vezes, sou fraca e generosa.
Mas não queira, meu bem, sentir o
gosto por muito tempo, e nem ter o doce na boca por toda a eternidade, porque
nasci na orfandade e o doce é meu, só meu. Sim, sou egoísta e assumo, sem
vergonha alguma.
Pode ser que em dias assim, de
assumir o egoísmo, eu fique angustiada e mulher angustiada, você sabe como é,
se torna perigosa, então nem queira chegar perto da colher.
Me trate então como uma criança,
me tornarei infantil, e quem sabe com esse ardil, você conquiste algo de mim.
Só não se esqueça: posso ser astuta quando me convém.
E já que está confuso e longe de
me entender, vou te deixar mais calminho: se aproxime de mansinho, sem me
deixar aflita, me pegue em um dia que esteja serena, me faça uma proposta
daquelas bem indecorosas e quem sabe, lhe darei um teco da colher.
Mas não se engane, ainda sou
mulher. E como sabe toda fêmea é inconstante. E eu ainda sou mais, pois que sou
persistente em minha inconstância de ser inconstante.
É por isso, meu querido, por eu
ser assim, sensata e corajosa, que repito, por ora, se afaste, pois, por
enquanto, eu não lhe dou essa colher.
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