sábado, 29 de outubro de 2011

Mistério


Por cima do muro não se via nada
Tudo era ausência
Vazio
A noite corria dilatada

Ele dizia palavras claras
Falava que trazia o amor
E todos buscavam encontrá-Lo
Para livrarem-se de sua dor

Mas por cima do muro não se via nada
A imagem Dele
Na cruz, pregada
As pessoas andando
E a Ele apedrejando
Não passava de um sonho
Sonhado

A cidade era o mais puro vazio
Vazio dilatado
Nas ruas não se via ninguém
Sem saber para onde nem porque

Com Ele todos padeceram
Seus pecados foram remidos
E hoje, no céu
Todos reunidos
Celebram algo que se pode chamar de vida
E enxergam o que chamamos de vida
Como morte
Morte e vida
Indissolúvel mistério

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Partida


Quando te vejo
Me percebo
Quando te escuto
Me sinto
E nesse perceber
e nesse sentir
Me construo
Mais minha
Menos tua

Quando não te vejo
Quando não te escuto
Sinto a ausência mórbida dos dias a dilatar-me as veias
E nela corre o sangue frio do desespero obtuso
Recluso em si mesmo a me atormentar
E com meus demônios fico
A te procurar

Em vão percorro cada brecha sólida do meu ser vivente
E não encontro vida
Que sustente
Esta espera profunda para ver-te
e escutar-te
novamente

Saio às ruas a procura do teu olhar
E me deparo com rusgas a murmurar
Frígidas qualidades de mero bem estar
Aparências vãs que não me satisfazem
E que nada
Me dizem

Ouço músicas em busca do teu som
Da tua voz
E escuto ruídos a abalar
Os meus ouvidos
Grotescos ruídos que não se comparam
Ao doce serenar da melodia que é o teu falar

Sua presença e suas palavras
Valem por quinze
Nas esferas do contar
Pois quando estou contigo sou criança
Volto a brincar

Cadê você que já se foi sem nem ao menos se despedir
Você foi e eu fui ficando
Vendo você partir
Saibas que leva contigo a minha criança inteira
E que jamais encontrarei presença ou voz que se compare à sua
Fico à parte da vida, na margem. À beira.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Doutor


Sabe
Por que interessa saber de tudo?
No mais das vezes
Importa é não saber de nada
Que nem caboclo simples
Que vive em paz
Com seus gados
Com suas cabritas
Com sua vida mansa
Na beira da mata
Enquanto o doutor
Na cidade grande
Corre aflito
Perdido
Em meio às próprias labaredas
Não sabe o que faz
Jaz
Mais morto do que vivo
E nessa roda mecânica
É peça
E seu penar
Pesado
Sufoca sua rotina
Que aglutina
Num velho viver
Suas esperanças
De bem estar
De bem ser
De bem querer
A si
A alguém

Amor
Eis a palavra
Que o doutor procura
E não logra encontrar
Nas matas
Nos rios
No silêncio verde onde tudo repousa, sendo
O caboclo encontra o amor que o doutor procura
Loucura

Eis que então parte o doutor
Desvirginar as matas inocentes
E de lá volta com raiva
É mentira
As matas mentem
Amor nenhum não encontrei
Se quer saber, só doido fiquei

O caboclo lhe adverte
Com simplicidade
Ó doutor melhor o senhor procurar seu amor
É na cidade
Pois o amor está em fazer o que se faz
Amando
E cuidar de cada um
Cuidando

A lua jamais foi a mesma para aquele doutor
Apaixonado
Amou
E ama até hoje
A lua
Companheira sua

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Culpa


Existe uma dor latente
De não ser assim
Uma pessoa contente
Uma dor pulsante
De não ser assim
Uma pessoa vibrante
E para que quero a alegria?
Quando a tristeza sempre vem
E me faz companhia?
Devo confessar
Que a tristeza
Sempre chega em primeiro lugar
Mas não foi sempre assim
Antes era a alegria
Quem costumava triunfar
Mas hoje em dia
A pobreza e a miséria chamam a atenção
E trazem para dentro
Uma culpa
Assim
Arcaica, primordial
Uma culpa sem nome
Que só se pode dizer
Colossal
E então tudo perde o brilho, o encanto
E o que antes era colorido
Hoje já não é tanto...

sábado, 22 de outubro de 2011

Morte


A morte é mais ou menos assim
O que era em um instante
No outro já não é mais
Um acontecimento
Simples
Seria
Assim
Fugaz
Não fosse a dor que causa
A infelicidade que traz

Dor de quem fica
Na saudade amanhecida
E renovada
Sempre lembrada
No pão nosso de cada dia
Naquela missa celebrada
Na mais sagrada abadia

A morte é assim
O maior mistério da vida
E a maior certeza também
Pois nascemos já sabendo
Que infalível fim teremos

E mesmo que não se queira
Um dia ela nos carrega
Para onde é que já não sei

Cegueira plena
Medo da morte
Esse eu já sei
De cor
Que tenho

Um medo


Tem dias que a dor desatina de doer
Assim rasteira
Assim ligeira
Uma dor módica talvez
Traz um ar fúnebre
Em sua face
Uma pele tom de morbidez
Um perfume
Sem liquidez
E seus olhos, arregalados,
Teimam em ficar ali
Me encarando mesmo
No duro

Sabe
Dessa dor eu bem que tenho medo
Porque ela mais parece segredo
Da realidade
Um segredo não contado
Que encerra uma profunda verdade

É...
Dessa dor eu bem que tenho medo
Um medo manso
Singelo
Gentil, por vezes
Que me deixa respirar,
Às vezes
Um medo
Dessa dor
Eu bem que tenho

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dita cuja


Raiva é um sentir que te toma conta
Por completo
Você vira logo objeto
Dela
E por conta
Dela
Passa a viver
E todo o seu ser
É raiva
Todas as suas veias
Latejam
Raiva
Todos os teus cabelos
Espetam
Raiva

Dela
Quero a prudente distância dos fortes
E temo encontrar a insensata proximidade dos fracos
Soem os bardos
Cantem os pássaros
Adeus Sem Fim quem um dia me pertenceu
Saia daqui agora
Vá embora
Lhe digo
Esse corpo ainda é meu
Sou a dona do pedaço
De cima a baixo
Aqui é meu espaço
Tome tento
Menina
Que aqui não ganhas alento
Nem triunfo
Nem glória
Pois que bem
Raiva
Se mova
Vá-se embora
Daqui
Agora

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Este um

Solidão de quem fica
Alegria de quem parte
O outro leva consigo
Morada construída
Obra de arte
O que fica sente ruína
Labaredas
Labirintos
Morte
Monstros
Destroços ferozes
A corroer-lhe as entranhas
Sensações estranhas
Lembranças
do que outrora fora
o que hoje
já não é mais
impossibilitado
vagueia na nave do sonho
e nesta vê brotarem as orquídeas
pensa:
-já é primavera
-quimera
-vagueio no sonho, outono
-durmo, apenas
Quem é?
Não sabe dizer
Não se reconhece no seu corpo
Porque dizem não ser quem é, de verdade
E então não se sente parte
Em parte, da totalidade
Mas sim exclusão
Com razão
Da multidão
Mira-se no espelho
E vê-se todo aflição
Medo absoluto
Da solidão
O maior desejo é o de gritar
Mas não consegue
O sangue a pulsar
A memória a latejar
O outro a ir-se
Que se vá
É o que sente
É o que pensa
Este um tão inho
Este um tão pequenininho
Este ser miúdo habita as profundezas de minha alma
E comigo passeia por todas as noites
Por todos os dias
Este um tão inho é quem simplesmente é
por não ser ninguém definido
Um amigo

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vontade



Tenho vontade
de todos os amores não rompidos
vividos
De todos os abraços não despedaçados
enlaçados
De todos os beijos enamorados
beijados

Tenho vontade
do teu corpo no meu
do teu cheiro
a embriagar-me
completamente
Do teu perfume desvairado
da tua cara sem batom
e seu cabelo desalinhado
sua voz fora de tom

Tenho vontade de te conhecer
profundamente
e ir-me assim des-cobrindo aos poucos
sob o véu do amor
ante o espelho da loucura
e nessa jura de amor
jurar-me sua
só sua
mais sua do que minha
ainda que contigo seja mais só do que antes
ainda que contigo
veja-me face a face
irremediavelmente
sozinha
por ser tua
e não, minha

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Memória



No silêncio da memória
Mora a verdadeira estória
Dos meus pais
Já nem sei mais
No silêncio da memória
Mora o que outrora se chamou realidade
Um tempo sem idade
Já nem sei mais
No silêncio da memória
Não habita ninguém
Lá tudo é silêncio
Profundo silêncio
De não se saber ser
Vazio.

Outrora



Joana olhou para Antonio
E não viu nele senão desilusão
Quando estavam juntos
Joana sentia
A mais absoluta e agonizante
Antipatia
Misturada com solidão
Então se refugiava na bebida, nas putas e nos cigarros
Joana que era casta
Virou mulher da vida
Joana que era burra
Virou mulher sabida
Antonio, Antonio
Teu rosto me transtorna
Vá viver sua vida
Sim, se vá com Aurora e me deixe em paz
Eis então que Antonio se foi
E agora
Bem agora
Livre que Joana era
Sabia ser
ninguém mais que Aurora
o que de fato fora
outrora

Amante


Esqueceram de me dizer

Que era para te esquecer

Nao ensinaram na escola

A arte de te apagar da memoria

Arrancaram da cartilha

A folha que continha

Explicadinho, tudinho

Como faz para te mandar para longe

Entao sobrou-me tu

Estorvo meu de memoria minha

Incontida lembranca descabida

Que me habita mais que a mim

E me forca a ser assim

Um pouco ma, um pouco ruim

Culpa sua, estorvo

Quem mandou nao ir embora

Logo quando eu mandei

Fica ai rondando

Para ver se ainda eh rei

Pois adianto

Nessas terras nada apita

Ficas la com tua querida

Que ela sim

Que te quer bem

E manda a professora de geografia

Me ensinar onde fica tua ilha

Para que eu a arranque do mapa

De vez uma vez por todas

Assim deixo de ser a louca

Varrida

E passo ser a amante

Desparecida

Vestigio



Disse que nao ia me entregar
acabei me entregando
talvez foi o vinho que voce me serviu
acabei me embriagando
nao sei
soh sei
que te vi rindo
vi nossos pes entrelacando
e conforme o vinho ia se acabando
vi a gente se beijando
e quando tudo ia comecar
acordei
te procurei pela cama
mas nem seu vestigio
estava por la
encontrou esconderijo
e esqueceu de avisar

Diamante



Tem diamantes que a gente
nao consegue burilar
nascem assim
brutos
com eles o melhor
eh nao teimar

Deixa o diamante quieto
no canto
e toma cuidado com a ponta afiada
porque com diamante assim
adianto
a gente sai eh machucada

Tem diamante quente
que queima soh de olhar
entao melhor fechar os olhos
que eh prudente nao cegar

Tem diamante dinamite
que explode
no mais simples sussurrar
entao nao enjeita conversa
que ele nao gosta de prosear

E tem sim diamante flor
e com esse a gente pode lidar
diamante flor
gosta de prosa, de toque
de cheiro bom de jardim molhado
Esse sim eh diamante bao
Esse sim eh diamante arretado

Diamante flor a gente nao esquece
eh com ele que a gente aprende
com ele que a gente cresce

Diamante flor tem sabor de eternidade
dele lembramos com carinho
a cada segundo do dia
e no raiar do sol
ou no aparecer da lua
o que fica eh a saudade
do diamante flor
que um dia foi gente
mais do que ousamos imaginar

Voce


Voce eh mais do que beleza passageira
Porque teus olhos dizem o inexprimivel
Sim, teu olhar revela
o que os poetas nao falam
E tua fala penetra
no mais intimo dos intimos
como um leve sussurrar
E com ela resplandece
o que antes se fazia calar
e o que era noite
amanhece
aqui dentro
no meu altar particular

O vento...


Sei lá como isso se chama
Alguns dizem saudade
Outros chamam tristeza
Descrevo e cada um nomeia
Como bem entender
É uma dor assim
Que dói de doer
A ausência tardia
Daquela que a gente quer tanto ver
A lembrança guardada
Embrulhada pra presente
Um vento passageiro
Que a gente bem sente
E quer chamar de nosso
Fazer nosso o que não é
Pra ver se encontra substituto pra´quela que tá longe
Nas Índias....
Mas sabendo que não se pode
A gente deixa o vento passar
E com ele vai junto, todo o nosso pesar
E fica então a memória
Daquela figura alegre, risonha, feliz
Pra quem a vida é um passeio
É glória
De ti guardo as boas lembranças
Paz aí nas suas andanças
Em breve, bem breve
A gente se vê
E quem sabe assim
O vento me ensina a gostar tanto de mim
Como gosto de você.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Acordar


Hoje acordei com a alegria do sol
Alegria que nem cabe nesse meu metro e meio de altura
Uma loucura
Hoje acordei  e mal despertei
Já estava feliz
Assim que nem meretriz
Cheia de mimos
E rimas
E versos
E plumas no ar

Hoje acordei que bem sei
A alegria que sentia
Irradiava amor
Brilhava poesia
Perfumada, de cores
Leveza, vestida de aromas, pureza
maresia

Hoje acordei para uma vida infinita
Única
Rica
Acordei senhora
Sem hora
Acordei

E se assim o é
Não é por não sentir tristeza
Mas por senti-la em sua plenitude
E nesta transparência de tudo sentir
É que sentindo se vai ao longe
E se descobre
A paz que tudo traz
Os belos sentimentos criados na Unidade
A brindar a ilusão da dualidade
Com fogos de artifício
Pesadelos e sonhos
E anjos

Hoje acordei de tudo isso
E percebi
O imperceptível movimento do ser
Sendo Um
E único
Sentido

Sintamos
Sentir é mesmo o caminho
Que nos religa a Fonte
Sem meia medida
Sem ponte

Há asas
Voemos?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Joana


Outrora diziam que as palavras curavam
Que eram o bálsamo para a alma ferida
Pois que revirada Joana revira e revira
Já são três da matina
E nada
Não prega os olhos
A chorar desatina
Uma dor assim que dói
De doer
Fogo sem nó
Curva sem chão
No mais, tudo é largo no sertão do sentir

Joana não sabe, mas José bem que tentou lhe dizer
Que estava a sua espera
Acontecesse o que sucedesse acontecer

José foi cedo
Nem deu tempo de Joana passar o batom e lhe dizer adeus
De Jose ficou só o ponto sem nó
A dó de doer assim
De mansinho

Devagar se vai ao longe
É o que as palavras diziam
Mas Joana acreditou e de tão devagar
Divagou
E perdeu José
Pra quem foi
É o que não sabe dizer

Adeus
É a única palavra que cabe na boca pura e casta de Joana morta

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Desapareça


Se quer ir
Sinceramente
Não sei o que te prende aqui
Há muito que já não sei mais qual o seu gosto, o seu rosto, o seu cheiro
E me deixe aqui com suas mentiras deslavadas
Com a alma brotada
De angústia e solidão
Não sou vitima não
Embora muito pareça
Mas a verdade é que sou dona
Dona da situação
Só não sou mais
É dona do seu coração
Então vá
Pegue suas camisas, sua escova de dente, seu creme de barbear
E me deixe aqui em paz
Com minhas roseiras, minhas pantufas
Meu crochê
E minha canção de ninar
Já vai tarde, se quer bem saber
Aliás, não fui que quem pediu
para você aparecer
Mas agora não peço, ordeno:
Desapareça
De uma vez por todas
E não ouse retornar
De você não quero nem lembrança
Tudo o que sobrar
vou mandar incinerar
Junto com tua memória
Tuas crenças e filosofias
com tudo o que você me dizia
e fazia acreditar
que o amor é eterno
só se for mesmo enquanto dura
e nosso, você bem sabe,
já passou da validade.

domingo, 9 de outubro de 2011

O mar

O mar me disse
no sussurrar das ondas
que a amizade pode ser tambem
um movimento triste

Pode ser um fino e tenue fio de barbante
que, num rompante,
de discordia e dor
se rompe
sem chance, sem louvor

Eis que entao tudo o que era movimento
torna-se tormento
e no mais breve resvalar dos olhos
dificil se torna encarar
aquelas jabuticabas negra
que outrora foram fieis companheiras
prontas a te escutar

O mar me disse
que as pessoas chegam e partem
e que delas fica
a melhor parte
o que o carinho nos permite lembrar
e guardar
bem dentro
por dentro
memoria solida
do ser e do estar

Me disse tambem
para ser esperta, madura, serena,
e para nao esperar
a volta de alguem
porque alguem nao volta
quando se vai
vai

Eh como mergulhar no mar
e sentir-lhe a textura, a calmaria
o corpo a ser envolvido por uma paz
sem medida
confianca plena
resplandecida

O mar me disse...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Poesia


Tem dias que a gente quer a poesia
Mais que a tudo no mundo
Mais que a gente mesmo
Mas a poesia não vem
Não tem jeito
Falamos manso, sutil
Com o coração leve, aberto
Gentil
E ela diz não
Então nos enraivecemos
E aos berros
Imploramos
E ela impassível
Senhora de si
Continua a nos negar
Sua beleza de estar
Em nossas vidas

Eis que então desestimulada e enfraquecida
Esqueço um pouco os versos e as rimas
E saio de mim para conhecer-me por dentro
Sem meia medida
E me lembro
Assim, de repente
Com o sol já se pondo
Que esqueci de te esquecer
E me pergunto:
Cadê você quando eu mais preciso?
Sua amorosa compania, seus sábios conselhos
Sua prudente eloqüência,
Aquela gostosa dormência
Que ao seu lado sentia
Quando o que mais me faltava
Era a poesia...

Esqueço que me esqueci de te esquecer
E com isso economizo tempo
Crendo ao léu que vivo por viver
Sem saber
Que no fundo
Você foi
E eu fiquei
No mais profundo abismo de mim mesma
Inerte
Impassível
Transfigurada figura que não se sabe ser
Medo ou privação
Loucura ou punição
Cadê você, poesia?
Volta, por favor.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sede


Há sede que não sacia
Não seca
Sede de beber assim
Sem parar
Há sede que a gente bebe
E ela não morre
Sede que mata a gente
De tanta sede que há

Há sede de comida
Sede de água
Sede de gente
E até sede de poesia
Há sede de ser
De não ser
Há sede de nada ser
De pertencer
Há sede
Como há...

Hoje acordei com sede
Sem saber do que
Uma sede assim
Doente
Meio febril
Colocou o termômetro
Chamou o antibiótico
E repousada na cama
A sede ficou
Meio que estatelada
Consternada da vida
Tão “sedosa”
Que levava

Eis que a sede me carregou junto
Me amarrou
E não teve jeito
De modo algum
me deixou sair
Bem que tentei
Burlar as regras
Tocar cornetas
Chamar a fonte e jorrar água
Mas de nada adiantou
A sede me prendeu
E desfigurou-me
Quem estava ali, de repente
Era ela
E não eu