sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal


Fico me indagando
O que é o natal
Para os desolados, os desabrigados
Os mortos de fome?
O que é o natal
Para os que estão em guerra
Fatigados da vida
Sem saída
O que é o natal
Afinal?

Todo mundo se junta
Troca presente
Se confraterniza
Se harmoniza?
Não sei
Realmente não sei
O que é o natal?            

“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”
Quem ama?
Quem deixa de amar?
O que é o amor
No natal?
Afinal?

Já não sei mais se é ver o parente querido
Se é chorar pelo ente desaparecido
Se é comer pelas tampas
Se é exibir as novas estampas

Só fico mesmo é me perguntando
O que é o natal
Para quem não pode ter natal
Onde está o amor para estes?
Evaporou-se?

Tenho dó do mendigo
Do morador de rua
Do favelado
E falo mesmo
Sem piedade
Amor não tem idade
Sentimento não tem razão
É a vocês que gostaria de desejar um feliz natal
Mas não posso
Porque o que é o natal
Afinal?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Otimismo


Libertar-se da dor
É deixar entrar um cadinho de esperança
E bem querer
Ver com os olhos do amor
O que antes se via
Com as lágrimas da tristeza
E do sofrer

Porque a dor passa
Um dia ela diz adeus
E é aí que aprendemos a lição
Que o que vale mesmo
É a intenção

Intenção de bem querer alguém
Ou algo
E buscar com afinco
Nos limites dos ilimitados confins
Sem fins

Conhecer
E saber
Que tudo na vida tem um porque e uma razão
E se não chegou a reposta ainda
É porque ela não está redigida
E nem acentuada
Falta o ponto final
A última cartada

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Saudades


A saudade é algo que mata
Mortifica a alma
Dilacera
Encerra
O que nela
Há de bom
E importante

Não deixa nem por um instante
A gente respirar
Quando viu já foi
A brutalidade chegou
Arrasou com tudo
Tornou até rasgo em miúdo

A saudade não se encerra com o pensamento
Ela aumenta
O tormento
Nem se contenta com a lembrança
Ela agiganta
A esperança

Esperança vã e sutil
Vil
De que a pessoa querida irá aparecer
Melhor é adoecer
De saudade

Quem sabe assim
Virá o tempo a passar
No seu rumo não certo
Acelerado

Encontro-me assim
Inebriado de saudade
Que dói
Querendo lá do fundinho da alma que o tempo passe
E não volte
E que não leve a pessoa querida a outro norte
Senão ficaria perdido
Sem rumo
Sem sorte

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sentir Vazio


Existe um estado vazio
Onde você não sente literalmente nada
Parece que sua alma está assim
Travada
Bloqueada
Amarrada

Um estado em que a tristeza não te alcança
Ela já passou
Ficou para trás a esperança
De ser feliz
É isso o que o coração diz

A solidão já chegou
E foi embora
Sem despedir
Achou melhor partir

A melancolia deu mostras de que estava por perto
 Se instalou
Chorou
Arrasou com tudo
Mas seguiu o rumo dela
Rumo certo

Há um estado em que tudo é vazio demais
Não existe nenhum destes sentimentos
É um sentir nada
Absolutamente nada

Fico assim por vezes
Ausente
Petrificada
Longe de mim
Afastada

E nesse estado quero por tudo chorar, gritar
Mas nada sai
Nem choro, nem tristeza
Porque não há sentimento
Nem ouro
Nem beleza
É tudo uma única certeza
A incerteza

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poetizar


Poetizar é tornar a vida mais bela
Menos triste
Ou então torná-la mais triste
Menos bela

Poetizar é enriquecer os mortos
E matar os vivos
Com a sede de viver
Mais
Sem poder
Simplesmente sem poder...

Encontro-me em estado de não poesia
Quero que me deixes
E leve a chave da porta
Deixe-a fechada
Para que nunca voltes
E leve contigo todas as marcas
As roupas
As lembranças
Ainda que rubras
Que parcas

Quero teu sexo longe do meu
E teu hálito fora do meu seio porque já não te anseio
Ao contrário
Te odeio

Quero-te distante
Ausente
Caminho ambulante
Realidade irrealizável
Sonho que não se sonha

O que fizeste comigo não se faz com mulher alguma
Nem com rosa
Nem com amor
Nem com dor
Nem com fagulha

Hoje não estou para a poesia
A não ser aquela que enriquece os mortos
Estaria para ela se por ti morresse
Mas por ti não morro
Cachorro

sábado, 10 de dezembro de 2011

Clarice Lispector


Esses dias estava me perguntando o porquê de gostar tanto de escrever e de realizá-lo com tanta paixão e freqüência . Clarice Lispector me respondeu:

‎"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias"
Clarice Lispector

Sem mais a dizer. Deixo o néctar das palavras de Clarice penetrar a veia, o coração, a alma de cada um. É assim que me sinto hoje, precisando do alento das palavras, da vida poética, simbólica, imaginária. Obrigada Clarice!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Conhecer


Conhecer é um mistério
Que leva tempo
A ser revelado
E às vezes em um instante
Queremos o outro todo
Desnudado

É um querer assim de gostar
Muito
Um querer bem
E nesse ímpeto
Se invade o espaço
De quem
Nem sabemos ainda
Quem é direito

O coração pede aproximação
E a mente silêncio
Nesse confronto
Prevalece a indagação
Vai-se ou fica e basta
E pronto?

Melhor então é seguir o fluxo da alma
Agir com a prudente e a sabida calma
Nem devorar
Nem ignorar
Simplesmente deixar o tempo passar
E com ele os mistérios
Hão de se aclarar

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dois


Existe o momento do nada sentir
E do sentir tudo
Ao mesmo tempo
Como se fôssemos dois
Em um
E somos de fato
Apenas um

Um turbilhão
De emoções revolvendo por dentro
Dispara o coração
O sono não vem
E lá dentro você se pergunta:
Quem?
Quem anseia quem?

No outro extremo um completo vazio
Uma ausência
A tua já conhecida e saudosa
Memória
Dolorosa

Eis que chega a verdade
E diz:
Um só corpo vivendo a angústia de ser dois
Que assim seja, ora, pois

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Escolhas


Chega um momento na vida em que temos que fazer escolhas. Olhar ao nosso redor, decidir o que está e o que não está bom e resolver mudar.
Isso vai desde perder peso, por vaidade ou saúde, até redefinir o que você sente, por quem você sente e como você sente.
O amor nunca muda. Amor de verdade, penso eu, sempre permanece. Ele pode ser espinhoso e machucar às vezes, mas vai estar sempre lá.
O que muda é a sua escolha da forma como você vai querer viver aquele amor. Com muitos beijos, sem beijos, com muitos abraços, sem abraços. Muda a intensidade, o tesão, muda a convivência, mas não a ternura, jamais o afeto. Porque o que entrou no coração, nunca sai de vez, apenas se transforma.
Então você redefine a forma de viver aquele grande amor. E espera, do fundo do seu coração, que ele continue grande a ponto de não caber no seu coração pequenininho...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pausa


Tem momentos em que o que você mais quer é afundar a cabeça no travesseiro e não levantar nunca mais. Reconhecer todas as suas fraquezas e morar com elas lá, nos lençóis. Não por desânimo ou por apatia, mas simplesmente porque não dá mais. Nem por tristeza também, porque ela já foi embora. Simplesmente porque dá vontade de não agir. De não lutar. De permanecer inerte.
Por que todos e tudo nos dizem para reagir frente às adversidades? Por que levantar a cabeça sempre e continuar lutando? E por que sempre perdas e perdas e perdas? Chega um momento em que cansa e que dá vontade de dizer chega. Chega de tentar. Sem ser pessimista e nem triste. Sem ser melancólica.
Simplesmente chega o momento de não se tomar qualquer atitude. Deixar mesmo que a vida se encarregue das respostas. Sim. Acho que chega um momento em que temos que abaixar a bola e aprender a esperar. Silenciar e aguardar. É difícil? E como. Mas o travesseiro me chama para isso e eu sigo o seu chamado. Silencio e espero. Não luto mais. Pelo menos não por hoje.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Angústia


A angústia bate
Quando você menos espera
É um sentir-se assim
Desesperado
Desalmado

Dá um nó na garganta
Um vazio no peito
E o canal da esperança
De largo
Passa a estreito

Angústia de perder
Pai, mãe
De ser velho
Angústia de não se saber, ser

É a morte do amor
A vitória não alcançada pelo perdedor
Angústia é tristeza aguda
Latente
Que deixa a gente mais do que triste
Menos, muito menos do que contente

Não há contentamento
Alegria
Nem gozo
No angustiado
Seu sentir
É um lodo só
Amargo
Azedo
Fardo pesado


Angústia é mesmo um sofrer
Um padecer
Que logra fortalecer
Aquele que a sente
Aquele que a compreende
Intimamente

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Decepção


Decepção é esperar alguma coisa de alguém
E receber outra
Completamente diferente
E então se sentir
Um pouquinho
menos gente
Inferior quem sabe
Sem ânimo de viver
Sem vontade
Porque você fica assim
Desestimulado
Sem pressa, sem gana
Desanimado

E não sente raiva
Nem nada
A tristeza é sua
E só sua
Um triste assim
De se sentir sozinho
No canto
Amuadinho
Sem companhia, sem presença
Sozinho
Só ausência

Decepção
É ir-se estar só
Triste
Por não se receber aquilo que o sonho sonhou
É chorar calado
sofrer contraído
sentindo-se menos, abafado, um anjo caído
do céu

Mas...
Se tem um lado bom
é que ela passa
Porque sonhamos novos sonhos
Aí é que mora a graça

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Caverna


Não se chega à claridade
Sem antes passar pela escuridão
Doces são os pesares da caverna
Que ensinam sobre a morte
As sombras, e a desilusão

Grata a ti escuridão
As trevas
Por tudo o que me ensinaste
Sem ti penaria mais que tudo
E mentiria se dissesse
Que não penaste
As minhas custas

Fui filha infiel
Por um raio de luz
Te abandonei
Mas posso lhe adiantar
Sucesso aqui
Não logrei

O sol não irradia
O fim da escuridão
Mas sim torna mais densa
Toda minha solidão

Mostra-a mais evidente
Latente
Pungente
E o que antes dormia
Hoje arde em chamas
E rebenta em gritos
Nos meus ouvidos
Roucos
Já loucos

Trago em mim saudades suas
Cavernas de meus dias úmidos e macios
Onde tudo era sombra e nada se distinguia
Se a mim me via
Era mera projeção
E bastava
Sem muito porque
Sem nenhuma indagação

Hoje são muitas perguntas sem respostas
E o tardar das horas se faz pesado

Trago este poema cansado
em tua homenagem
Caverna minha
Para sempre
minha

sábado, 29 de outubro de 2011

Mistério


Por cima do muro não se via nada
Tudo era ausência
Vazio
A noite corria dilatada

Ele dizia palavras claras
Falava que trazia o amor
E todos buscavam encontrá-Lo
Para livrarem-se de sua dor

Mas por cima do muro não se via nada
A imagem Dele
Na cruz, pregada
As pessoas andando
E a Ele apedrejando
Não passava de um sonho
Sonhado

A cidade era o mais puro vazio
Vazio dilatado
Nas ruas não se via ninguém
Sem saber para onde nem porque

Com Ele todos padeceram
Seus pecados foram remidos
E hoje, no céu
Todos reunidos
Celebram algo que se pode chamar de vida
E enxergam o que chamamos de vida
Como morte
Morte e vida
Indissolúvel mistério

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Partida


Quando te vejo
Me percebo
Quando te escuto
Me sinto
E nesse perceber
e nesse sentir
Me construo
Mais minha
Menos tua

Quando não te vejo
Quando não te escuto
Sinto a ausência mórbida dos dias a dilatar-me as veias
E nela corre o sangue frio do desespero obtuso
Recluso em si mesmo a me atormentar
E com meus demônios fico
A te procurar

Em vão percorro cada brecha sólida do meu ser vivente
E não encontro vida
Que sustente
Esta espera profunda para ver-te
e escutar-te
novamente

Saio às ruas a procura do teu olhar
E me deparo com rusgas a murmurar
Frígidas qualidades de mero bem estar
Aparências vãs que não me satisfazem
E que nada
Me dizem

Ouço músicas em busca do teu som
Da tua voz
E escuto ruídos a abalar
Os meus ouvidos
Grotescos ruídos que não se comparam
Ao doce serenar da melodia que é o teu falar

Sua presença e suas palavras
Valem por quinze
Nas esferas do contar
Pois quando estou contigo sou criança
Volto a brincar

Cadê você que já se foi sem nem ao menos se despedir
Você foi e eu fui ficando
Vendo você partir
Saibas que leva contigo a minha criança inteira
E que jamais encontrarei presença ou voz que se compare à sua
Fico à parte da vida, na margem. À beira.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Doutor


Sabe
Por que interessa saber de tudo?
No mais das vezes
Importa é não saber de nada
Que nem caboclo simples
Que vive em paz
Com seus gados
Com suas cabritas
Com sua vida mansa
Na beira da mata
Enquanto o doutor
Na cidade grande
Corre aflito
Perdido
Em meio às próprias labaredas
Não sabe o que faz
Jaz
Mais morto do que vivo
E nessa roda mecânica
É peça
E seu penar
Pesado
Sufoca sua rotina
Que aglutina
Num velho viver
Suas esperanças
De bem estar
De bem ser
De bem querer
A si
A alguém

Amor
Eis a palavra
Que o doutor procura
E não logra encontrar
Nas matas
Nos rios
No silêncio verde onde tudo repousa, sendo
O caboclo encontra o amor que o doutor procura
Loucura

Eis que então parte o doutor
Desvirginar as matas inocentes
E de lá volta com raiva
É mentira
As matas mentem
Amor nenhum não encontrei
Se quer saber, só doido fiquei

O caboclo lhe adverte
Com simplicidade
Ó doutor melhor o senhor procurar seu amor
É na cidade
Pois o amor está em fazer o que se faz
Amando
E cuidar de cada um
Cuidando

A lua jamais foi a mesma para aquele doutor
Apaixonado
Amou
E ama até hoje
A lua
Companheira sua

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Culpa


Existe uma dor latente
De não ser assim
Uma pessoa contente
Uma dor pulsante
De não ser assim
Uma pessoa vibrante
E para que quero a alegria?
Quando a tristeza sempre vem
E me faz companhia?
Devo confessar
Que a tristeza
Sempre chega em primeiro lugar
Mas não foi sempre assim
Antes era a alegria
Quem costumava triunfar
Mas hoje em dia
A pobreza e a miséria chamam a atenção
E trazem para dentro
Uma culpa
Assim
Arcaica, primordial
Uma culpa sem nome
Que só se pode dizer
Colossal
E então tudo perde o brilho, o encanto
E o que antes era colorido
Hoje já não é tanto...

sábado, 22 de outubro de 2011

Morte


A morte é mais ou menos assim
O que era em um instante
No outro já não é mais
Um acontecimento
Simples
Seria
Assim
Fugaz
Não fosse a dor que causa
A infelicidade que traz

Dor de quem fica
Na saudade amanhecida
E renovada
Sempre lembrada
No pão nosso de cada dia
Naquela missa celebrada
Na mais sagrada abadia

A morte é assim
O maior mistério da vida
E a maior certeza também
Pois nascemos já sabendo
Que infalível fim teremos

E mesmo que não se queira
Um dia ela nos carrega
Para onde é que já não sei

Cegueira plena
Medo da morte
Esse eu já sei
De cor
Que tenho

Um medo


Tem dias que a dor desatina de doer
Assim rasteira
Assim ligeira
Uma dor módica talvez
Traz um ar fúnebre
Em sua face
Uma pele tom de morbidez
Um perfume
Sem liquidez
E seus olhos, arregalados,
Teimam em ficar ali
Me encarando mesmo
No duro

Sabe
Dessa dor eu bem que tenho medo
Porque ela mais parece segredo
Da realidade
Um segredo não contado
Que encerra uma profunda verdade

É...
Dessa dor eu bem que tenho medo
Um medo manso
Singelo
Gentil, por vezes
Que me deixa respirar,
Às vezes
Um medo
Dessa dor
Eu bem que tenho

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dita cuja


Raiva é um sentir que te toma conta
Por completo
Você vira logo objeto
Dela
E por conta
Dela
Passa a viver
E todo o seu ser
É raiva
Todas as suas veias
Latejam
Raiva
Todos os teus cabelos
Espetam
Raiva

Dela
Quero a prudente distância dos fortes
E temo encontrar a insensata proximidade dos fracos
Soem os bardos
Cantem os pássaros
Adeus Sem Fim quem um dia me pertenceu
Saia daqui agora
Vá embora
Lhe digo
Esse corpo ainda é meu
Sou a dona do pedaço
De cima a baixo
Aqui é meu espaço
Tome tento
Menina
Que aqui não ganhas alento
Nem triunfo
Nem glória
Pois que bem
Raiva
Se mova
Vá-se embora
Daqui
Agora

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Este um

Solidão de quem fica
Alegria de quem parte
O outro leva consigo
Morada construída
Obra de arte
O que fica sente ruína
Labaredas
Labirintos
Morte
Monstros
Destroços ferozes
A corroer-lhe as entranhas
Sensações estranhas
Lembranças
do que outrora fora
o que hoje
já não é mais
impossibilitado
vagueia na nave do sonho
e nesta vê brotarem as orquídeas
pensa:
-já é primavera
-quimera
-vagueio no sonho, outono
-durmo, apenas
Quem é?
Não sabe dizer
Não se reconhece no seu corpo
Porque dizem não ser quem é, de verdade
E então não se sente parte
Em parte, da totalidade
Mas sim exclusão
Com razão
Da multidão
Mira-se no espelho
E vê-se todo aflição
Medo absoluto
Da solidão
O maior desejo é o de gritar
Mas não consegue
O sangue a pulsar
A memória a latejar
O outro a ir-se
Que se vá
É o que sente
É o que pensa
Este um tão inho
Este um tão pequenininho
Este ser miúdo habita as profundezas de minha alma
E comigo passeia por todas as noites
Por todos os dias
Este um tão inho é quem simplesmente é
por não ser ninguém definido
Um amigo