quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sentir


Sentir é como que andar sonhando pela vida
Sentir é estar pleno de algo que não se sabe o nome
Sentir é experimentar, com o coração, tudo o que vem de fora
É experimentar, lá dentro, pedaçinhos do céu
Você pode sentir alegria, medo, ansiedade, tristeza, raiva
E estará vivo
Certo de que sua jornada na Terra está acontecendo
Sentir é como experimentar água gelada do riacho
É estar aberto à vida
A tudo aquilo que faz sentido
Sentir também silencia a voz da mente
E sussurra, no íntimo, verdades inexprimíveis
Sentir é estar uno com o universo
Em sintonia com tudo o que é e existe
É acreditar que tudo tem razão e vazão para ser
Sentir é, acima de tudo, conectar-se com você mesmo
E caminhar, sentindo, é dizer oi a tudo o que é vivo
Sente-se quando se enxerga, quando se ouve, se toca, se cheira
Sente-se através de todos os sentidos
Sentir
A melhor resposta para qualquer pergunta
Não há remédio que cure a doença da alma
Mas sentir pode aliviá-la e torná-la mais forte, sadia, quem sabe
Sentir
Basta de falações. Sinta.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A vida da menina


Ela estava lá, feliz, na fila dos formandos. Ao som da música, dançava, conversava com os amigos. Sentia-se única, especial, vencedora. Cinco anos de faculdade sem um único exame, cinco anos de puro estudo e dedicação que culminavam naquele momento, especial, marcante, significativo, único. Na platéia, seus pais, seus avós, sua irmã, sua tia, seu primo, seu amado. Todos felizes, empolgados, satisfeitos, orgulhosos. Ela mal cabia em si de tanta felicidade. Era como se o mundo tivesse razão para existir e a vida fosse plena. Sua vontade era de beijar a todos e agradecer por todo o carinho, todo o apoio que haviam lhe dado ao longo desses anos todos... Mal sabia ela o que estava por vir... Abandonaria o seu amado, conheceria um chefe inesquecível, abandonaria este chefe logo mais, abandonaria seus familiares, amigos, doaria suas roupas, ficaria nua, despida, insana. Mal sabia ela o que estava por vir... Erraria em caminhos incertos, tropeçaria em todas as dificuldades possíveis e negaria receber ajuda daqueles que mais a amavam. Rejeitaria a todos e a todo o amor que queriam lhe dar. Mal sabia ela o que estava por vir... Deixaria o lar para trabalhar em uma favela e, acreditando que fazia o bem, mal sabia ela o mal que fazia a si mesma. Deixaria o seu amado em busca de um amor maior. Mal sabia ela o que estava por vir... Abandonaria o seu emprego e sairia de novo de sua casa e seu lar para buscar ajudar os outros. Mal sabia ela o que estava por vir... Não só não ajudava como tinha que ser ajudada.
Lá, naquele momento especial, ao som de Love generation, mal sabia ela o que estava por vir.... Don´t worry about a thing, it´s gonna be allright, era a letra da música. Ela preocupou-se, em demasia, com o outro, e esqueceu de si mesma. Enlouquecida, andou por caminhos que hoje não lhe saem da memória. Errou por trilhas que estavam fadadas a dar em lugar algum. E assim foi que tudo deixou de ser normal, para tornar-se anormal. Assim foi que ela viveu 4 anos de sua vida, espetando o corpo todo em espinhos de sofrimento e de dor. Tal qual contrair um câncer, essa era a sensação. Fadada a sofrer, parecia ser essa a sua sina. Até que novas pessoas apareceram e ela pôde se sentir novamente consciente, sã, amada. A família a acolheu como quem acolhe um passarinho ferido depois de uma tempestade. A loucura havia passado e dela, só restaram as memórias. A menina hoje se recompôs e caminha, sem se saber trôpega ou confiante. Mas caminha. E isso é o que importa. No rádio, aquela canção e as lembranças, para sempre, marcadas em seu coração. Continue menina, a jornada é longa e tu és abençoada!
Por mais difícil que seja a situação, o tempo sempre vem e nos afaga. Com o tempo tudo realmente passa. A vida, impermanente, dá os seus novos ares e nós aproveitamos para voar. Podemos, sempre que quisermos, admirar o céu, com sua lua e seu sol, com suas estrelas. Podemos, admirar as flores, as cahoeiras, os pássaros. Podemos admirar uma música ou pessoa bonita e nos regozijar com esta beleza. Só cabe a menina confiar em si mesma e viver. Porque ela mal sabia o que estava por vir e mal sabe agora.... Mas pode acreditar em coisas boas e coisas boas lhe virão...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Amor caipira


Ele não tinha nada. Vivia à custa de uma parca renda que seu trabalho como tratorista lhe rendia. Ela tinha tudo. Dona de uma herança exorbitante, moça de berço de ouro, como dizem. Ele trabalhava na fazenda dela. Era pobre e ela, rica. Mas uma coisa os unia: o amor que tinham um pelo outro. Havia sido na infância, o primeiro encontro. Eles deram, ambos, o primeiro e único beijo de suas vidas. Nunca mais ele havia amado mulher alguma e ela, jamais amara outro homem. Cresceram na sede de concretizar esse amor escondido. Cresceram um para o outro, como acreditavam ter nascido: fadados a se pertencerem. E assim teria sido não fosse a existência da família dela. Com preconceito arraigado, esperavam um nobre homem para desposar a filha e foi um espanto quando descobriram o amor secreto. Surras, gritos, choros, pancadaria, foi o que sucedeu. Ela ficou proibida de pisar na fazenda e a ele, coube a expulsão. Devido à tristeza que lhe tomou conta, ela desenvolveu um câncer de pulmão. Passado um ano, morreu. E ele, coitado, vive hoje em terras do sertão. Chora dia e noite a perda da mulher amada. Jamais se casou e nunca sequer se envolveu com mulher alguma. Seu coração é só saudade e sua alma, dilacerada, espera a morte chegar. Para ele a vida não faz mais sentido. Para ela, depois que lhe tiraram seu amor, a vida também não fez.
Nem sempre na vida temos tudo o que queremos mas uma coisa é certa: a nós não se pode negar o direito de amar. Pois o amor é tão inerente e fundamental quanto a própria vida. Amar livremente é algo a que não se pode dizer não. O amor só conhece o sim. Amemo-nos. 

domingo, 26 de junho de 2011

Falta...

Em terras do sertão as emoções não apenas existem, elas abundam.
Quando se tem muita gente por perto, parece não se precisar delas. E ao mesmo tempo cresce a ausência interior, a ânsia por compania.
Em meio a tantos, me sinto só. A sensação é de falta. E o que se aproxima é uma solidão silenciosa, que chega sorrateira e toma todo o lugar.
Em meio a tantos, me procuro, mas não me acho. Não me encaixo. Os espaços são pequenos ou eu sou grande, exigente demais. Talvez seja exigência minha em demasia. Talvez seja uma vontade doente de querer sempre o que não se tem. Talvez... Talvez seja teimosia, birra, manha. Ou talvez seja solidão mesmo e sou eu aqui tentando esconder. E se for solidão? Pois o que sinto é uma nuvem negra, uma noite fria e escura dentro de mim. O que sinto é uma noite sem luar, sem estrelas, uma noite vazia. Procuro, em vão, encontrar alguém, mas tudo silencia, as ruas estão desertas... Me sinto como que isolada do mundo, deslocada das conversas, abandonada. É preciso que se assuma: me sinto só. Falta um o que ou um quem. Falta um bom livro, uma bela obra de arte, música clássica. Falta alguém. Falta quem me veja como a mais linda de todas, falta quem me admire, me aqueça, me convença de que sou bela. Falta quem me dê as mãos, brigue comigo porque perdi a hora. Falta alguém. Pra dizer que me ama, me fazer carinho, chamar de meu bem. Falta alguém.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Felicidade

Está aí algo dificil de se escrever sobre...
Tenho a sensação de que na maior parte das vezes estamos felizes mas não nos damos conta de que estamos.
Passamos pela vida, apressados, e nem notamos que estamos felizes.
Em meio ao caos da cidade grande, encontrar um passarinho amarelo bem diante de nossos olhos é motivo de felicidade. Mas estamos preocupados com o horário, com a conta bancária, com nossos relacionamentos, que nem nos damos conta de que o passarinho pousou lá. E só quando ele vai embora fica a vaga lembrança de que naquele instante estávamos felizes. Mas aí já é tarde, o momento se foi...
Quando encontramos alguém que não víamos há séculos. Está aí um motivo de grande felicidade. Mas a pessoa se vai e não nos deixa a sua presença. Então passamos a sofrer a ausência daquilo que foi bom.
Ou então o motivo mais evidente e corriqueiro de todos: apaixonar-se! Quando nos apaixonamos perdemos o chão e a pessoa amada vira o céu onde passamos a estar. Nas nuvens, como diz o dito popular. E tudo é motivo de felicidade! O perfume que o outro usa, a cor da sua blusa, seu toque, seu cheiro, seu caminhar, tudo nos fascina, tudo nos leva a sonhar e a querer sempre mais. Mas assim como a paixão chega, ela vai embora. E se chega de mansinho, vai-se a galope. Perdemos o ser amado e fica consagrado o direito a tristeza e a dor.
Por isso é que digo ser raro o instante verdadeiro de felicidade. Porque nos apegamos as coisas ruins e fazemos delas a nossa realidade. Mas com atenção e sabedoria para com a vida, tudo pode ser diferente. Podemos ser mais constantemente felizes. Podemos viver melhor.
O encontro com a natureza, com o simples, a reunião em família, o encontro com os amigos, o por do sol, as estrelas, a lua, tudo pode ser motivo de felicidade se estamos atentos a isso e não ao resto.
A felicidade mora dentro da gente. Basta ter olhos, basta saber ver.  

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um menino...

Há várias formas de amor.
Podemos amar nossos pais, irmãos, amigos, podemos amar nosso país, nosso time de futebol, nosso Deus.
Não importa a forma do amor, o que importa, verdadeiramente, é o fato de que as lembranças, de qualquer amor, não cessam.
Conheci um menino de 5 anos e com ele experienciei momentos muito significativos da minha vida.
É um menino muito, muito, muito marcante. Sagaz, eloquente, inteligente.
Com ele eu briquei de ser Harry Potter, de ter varinha mágica de condão que fazia os cachorros latirem, brinquei de jogos, de luta. Com ele vi desenhos, desenhei, pintei. Éramos, os dois, crianças a se divertir pela vida. Tínhamos uma capa da invisibilidade e podíamos passar desapercebido pelos outros. Compartilhamos momentos, truques, segredos.
Mas como somos tocos e nossa vida, um rio, fizemos caminhos diferentes nessa travessia. Ele continua sua jornada em algum lugar, bem, bem distante daqui e eu continuo a minha.
Já não nos vemos mais e nem nunca mais nos veremos.
O que ficou desse menino foi uma única coisa, que o tempo não tira: uma doce lembrança.
É por isso que digo, a lembrança, quando é de amor, não cessa.
Poderei ter 30, 40, 50 anos e esse menino continuará vivo em minha memória. Sua voz, face, trejeitos, tudo. Nada me escapa, tudo me dilacera.
Por dentro sou só saudades... É isso o que sinto sobre esse menino: uma saudade doida, daquelas que dá vontade de sair na rua e gritar: alguém viu meu amigo?
Um amigo, do peito.
E cá comigo a vontade de que tudo na vida dele corra perfeitamente bem. Mas eu sei que não vai correr, porque a vida é sinônimo de atribulações, complicações, pegadinhas. Então que ele tenha forças para superar tudo e que continue sendo sempre, um menino. Quando adulto, que ele não se esqueça da magia das nossas brincadeiras e de todos os bons momentos que vivemos juntos.
Adeus menino, você deixou saudades. Siga e não se esqueça, te amo de verdade!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Já nem sei mais


Estou aqui
Se inteira ou em pedaços
já nem sei mais
parte de mim amanhece
outra parte, anoitece
e nessa manhã há gozo, contemplação, alegria
nas noites há medo, espanto, nostalgia
Se fico ou se parto
já nem sei mais
aquela que parte leva consigo alteridade
a que fica, permanece, com saudade
Se vivo ou se morro
já nem sei mais
a que vive enxerga poesia, ouve os pássaros, é toda alegria
a que morre é solitária, oca, melancólica, vazia
Um turbilhão de sensações
nenhuma verdade definida
É essa a vida que sempre finda?
Ou é a morte que nunca termina?
Já nem sei mais

terça-feira, 14 de junho de 2011

O íntimo


Do que é feito o homem senão de nuvens, do céu, de flores, do mar?
De que vale a vida senão pela oportunidade que temos de sonhar?
Do que é feito o mundo senão de versos, rimas, poesias?
De que vale a morte se dela não podemos voltar?

Somos muito além do que pensamos que somos e podemos ser sempre mais. Além da aparência física, pela qual os outros nos julgam, além do reflexo, miragem, imagem que os outros fazem de nós, somos mais. Porque o que somos verdadeiramente só o nosso íntimo sabe e ele, é fato, não nos nega a chance de sermos pessoas mais justas, mais sensatas, mais generosas, mais felizes, quem sabe, a cada dia. Ele é nosso árbitro interior, nosso termômetro e a ele estamos conectados. Ao nosso íntimo. E por mais voláteis, violentos, nojentos, que sejamos, o nosso íntimo sabe que somos pessoas boas. Mas mesmo assim tem acontecimentos que nos escapam da compreensão. Tragédias, violências, aberrações... E indagamos ao nosso íntimo: como pode ? Há então no mundo pessoas que não são boas ? E o que fazemos com elas ? A vontade inicial é de acabar com tudo e junto, evaporar do mundo. Tanta barbárie, injustiça, atrocidade... Por que ? Mas o nosso íntimo sabe que isso faz parte do que chamamos de vida. Sem explicação, sem noção, só parte da vida. E então nos acalmamos e não nos condenamos por querer a morte de alguém. Faz parte, tudo bem, diz o nosso íntimo. Já, já passa, a ferida cicatriza e tocamos em frente. Porque esse é o nosso destino inalienável: seguir adiante.
E seguimos com sonhos que não são feitos de pó. Seguimos em busca de realizar cada vã esperança, cada desejo reprimido, cada instante antes abolido. Seguimos para concretizar um desejo primordial: ser feliz. Seja do jeito que for, com mais, com menos, com nada, como quisermos. Seguimos para sermos felizes, não importa onde nem com quem. Feliz. Basta.
E sonhando lembramos que o mundo é possível. Um mundo mágico, encantado, um mundo feito de versos, doces, coca-cola e poesia. Um mundo assim é possível dentro da gente e se assim for, veremos seu reflexo lá fora, em miragens, campinas, cachoeiras e paisagens.
Um mundo tal como num quadro lindo. O nosso mundo, interior.
Sem fórmulas, sem caminho. Não há trilha que nos conduza para esse lugar. Basta estarmos vivos, basta acreditar.

Do que é feito o homem senão de nuvens, do céu, de flores, do mar?
De que vale a vida senão pela oportunidade que temos de sonhar?
Do que é feito o mundo senão de versos, rimas, poesias?
De que vale a morte se dela não podemos voltar?

Mini poesia



É preciso que se considere a efemeridade da vida, das palavras, das conversas, das pautas, de tudo.
É preciso que se entenda que tudo passa
e rápido
Que tudo acaba
quando nem bem começou
Aquela conversa esperada
A tal festa sonhada
Tudo vem e vai
Sem mais, nem menos
Quando vemos, já é tarde, acabou
Entao por que tanto abalo? Tanta euforia, correria?
Por que tanto drama, tanto cinema, tanta folia?
Não entendo para que tudo isso
Bastasse o verso, o gesto, a intenção, a poesia
E então seríamos mais serenos, mais calmos, tranquilos
Mais, do mesmo, mesmo.
Em paz
E isso diz tudo.

sábado, 11 de junho de 2011

Amor

Demorei muito para escrever este post. Queria falar sobre o dia dos namorados e não sabia como. Então decidi falar sobre o amor. E então me perguntei: quem sou eu para falar de um tema desta magnitude? Então decidi esquecer sobre a magnitude do amor, e também sobre quem escreveria acerca dele e aqui estou eu.
Bauman diz que "o amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. Só que ele encobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento. Faz sentido pensar na diferença entre amor e morte como na que existe entre atração e repulsa. Pensando bem, contudo, não se pode ter tanta certeza disso. As promessas de amor são, via de regra, menos ambíguas do que suas dádivas. Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. E o fascínio da procura de uma rosa sem espinhos nunca está muito longe, e é sempre difícil de resistir".
Isso diz tudo e em grande parte, resume o que tenho a dizer.
Muitas pessoas unem-se as outras não porque as amam verdadeiramente mas sim porque têm medo da morte. Da morte em solidão. De morrer sozinho. Muitos casais são, um para o outro, muletas, verdadeiras muletas, que não esboçam a mais mínima alegria em estar com o outro pelo outro mas somente porque este outro lhe confere status, porque o livra da morte, da solidão. E estar junto passa a ser uma circunstância e não um bem querer. Passa a ser uma situação de vida, cômoda, fácil, regular.
Há outros casais, mais raros, diga-se de passagem, que estão juntos para celebrar o amor. Para celebrar o encontro verdadeiro de almas afins. Estes sim, vêem no amor, um caminho para a morte. Porque o amor nada mais é do que a morte de si mesmo em prol de um Outro. A morte que permite o renascimento de um terceiro, o amor, que vem coroar a relação, marcando a alteridade de cada um. Esse sim é o amor legítimo. Não aquele em que o outro é sua muleta nem tampouco aquele outro em que o parceiro é a sua vida inteira. O amor verdadeiro fica entre tudo isso. É algo intangível e inexprimível mas que sobrevive a dualidade dos dois e constrói um terceiro elemento. Algo em comum, que respeita as diferenças e sobrevive, mesmo que cada um tenha morrido para si, em parte. O amor tem algo a ver com a morte, sim. Ambos exigem o descobrimento de um novo ser, do ser que ama, o amor, no caso do amor e a vida, no caso da morte. Isso é tudo o que tenho a dizer sobre o amor e ainda que um pouco enigmático, é o melhor que sei expressar. Boa noite de sábado e feliz dia dos namorados!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Preconceito e discriminação

É importante que se diferencie preconceito de discriminação. Preconceito é a idéia, preconceituosa, que você tem acerca de alguma coisa, enquanto discriminação é agir contra esta determinada coisa em virtude do seu preconceito. É dizer, enquanto o preconceito está no campo das idéias, a discriminação está no campo da ação.
Pois bem. Muita gente é preconceituoso mas não age de acordo com o seu pensamento, ou seja, não exterioriza sua opinião e consequentemente, não discrimina. Já outros discriminam, ou seja, manifestam o seu preconceito a céu aberto.
Enquanto a discriminação pode ser erradicada ou coibida por meio de leis, vide o projeto de lei contra a homofobia, o preconceito jamais poderá ser erradicado, visto estar arraigado no íntimo de cada um.
Hoje me deparei com outra espécie de preconceito, que me era desconhecida. O preconceito contra o esteriótipo do rico. Vestir abercrombie, ser uma pessoa viajada, falar mais de uma língua, estudar em uma faculdade cara, ter um ótimo carro, tudo isso virou motivo para preconceito. São esteriótipos que, se preenchidos, levam a conclusão de que a pessoa possuidora de tais atributos é uma rica filhinha de papai, que não quer nada da vida, que não se preocupa com os outros, ou ainda, e mais, que nem olha para esses outros em sua existência.
Assim como ter preconceito contra pobres, índios, negros, doentes mentais, prostitutas etc é errado, ter preconceito contra ricos também o é. Não é só porque a pessoa tem dinheiro que ela não se indaga qual o sentido da vida, que ela não se engaja para melhorar as condições sociais, que ela não reflete sobre a vida e seus benefícios/malefícios.
Estamos todos inseridos em uma sociedade consumista e é errado tachar aqueles que detêm mais poder de consumo como culpados. Porque a desigualdade não é culpa de quem tem muito. A desigualdade é culpa da estrutura de classes da nossa sociedade determinada por fatores históricos. Não é certo culpar aqueles que detêm um maior poder econômico acerca das misérias que assolam a humanidade. Tem muitos, que tem dinheiro em abundância e que realizam trabalhos sociais no lugar do governo. Tem outros, que têm um pouco menos, mas que são detentores de uma empresa, que gera empregos. Ou seja, é errado olhar o mundo através de lentes com a ótica voltada para o preconceito. Porque, enquanto seres humanos, somos todos iguais e enquanto indivíduas, somos todos diferentes. Cada um é aquilo que sabe e que consegue ser e se na vida tudo é uma escolha, uma coisa estou certa de escolher: eu escolho olhar a todos com os olhos da liberdade, ou seja, com um olhar que permite o outro ser quem ele é, independetemente de sua origem ou classe social.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Onde iremos chegar?

Tenho um desabafo a fazer. Amargo, desses que a gente não engole fácil. É como tomar uma aspirina sem água e sentir seu gosto azedo espalhando-se por toda a boca. Quero desabafar sobre o meu inconformismo, sobre a minha indignação.
Estamos, todos, ao nascer, fadados a morrer e isso é óbvio. Mas penso que não estamos só fadados a uma morte, a física, pois morremos, deveras, de várias outras maneiras. Morremos a cada instante em que deixamos de ser livres. E de fato, a liberdade nos falta. Sim, porque somos obrigados a desempenhar vários papéis sociais ao longo de nossa existência. A sociedade nos educa para sermos pessoas bem sucedidas na profissão, para constituirmos uma linda (e feliz) família, ou seja, para termos um bom casamento, para sermos esbeltos e belos, para fazermos esportes e sermos saudáveis, para, enfim, sermos perfeitos. E quem foge deste padrão não o faz por querer, porque todo mundo quer estar "encaixado" (como uma peça mesmo), na sociedade. Quem o faz perdeu o jogo, fracassou. É um "looser", alguém a margem da sociedade, aquele que não é visto com bons olhos.
Mas me pergunto: em que sentido então podemos nos declarar livres? Se nascemos obrigados a sermos homens/mulheres de sucesso, pais/mães responsáveis, esposos/esposas felizes, enfim, se nascemos para pertencer a uma máquina que nos impõe regras, como podemos ser livres? E como sobreviveríamos se não fosse a sociedade?
Estamos imersos nesse giro e nem nos damos conta de que estamos girando. Mas estamos e bem rápido. Girando e girando passamos os nossos dias. E como seria se assim não fosse? Como seria se a televisão não nos bombardeasse com modelos perfeitos, com formas perfeitas de ser e estar no mundo? Como seria se não vivessemos cercados por consumo, de toda espécie. Como seríamos se pudéssemos consumir menos para sermos felizes? Seríamos mais ou menos tristes?
Não tenho nenhuma resposta, sou só indagações. Mas trago comigo uma certeza: parte do vazio que sentimos conecta-se ao excesso de regras que a sociedade nos impõe. Sim, porque temos que preencher a expectativa de um Outro para sermos felizes e é fato, não conseguimos preencher. Então nos sentimos vazios, miseráveis, inferiores. Além disso, consumimos em demasia. Consumimos também para preencher o vazio, para nos sentirmos importante, superior, alguém e alguém com valor.
Onde iremos chegar? Fico com essa pergunta e com um desejo enorme de ser livre. A liberdade me é cara, só não faço a menor idéia de como consquistá-la.

terça-feira, 7 de junho de 2011

"Pensar é estar doente dos olhos"


O mundo não foi criado para pensarmos a respeito dele mas sim para ser sentido, através do olhar, do tato, do olfato, da audição, da fala, através de nossa imaginação. O mundo é o lugar em que experimentamos ser alguém, por nós mesmos, para alguém mais. Porque sem o outro, não existimos. Impossível existir saudavelmente sozinho, isolado. E é sentindo que caminhamos por entre todos os abismos que o mundo nos impõe. Vemos o céu e sentimos alegria; nos deparamos com a maciez e o conforto do travesseiro e nos sentimos em paz; ouvimos uma boa música e nos regozijamos com ela; conversamos com alguém e saímos crescidos daquela conversa; imaginamos os nossos sonhos se transformando em realidade e sentimos confiança. Sentindo, é assim que caminhamos no mundo.
"Pensar é estar doente dos olhos" é uma frase de Fernando Pessoa que nos remete a esta reflexão: pensamos sobre a vida ou de fato a vivemos? Estamos como máquinas inseridos em um cotidiano frenético ou estamos serenos, enxergando a vida como de fato ela é? Estamos acordados ou dormimos? Vemos, de fato, ou estamos cegos como Saramago bem nos diz? Quero acordar para a realidade agora mesmo. Pois sinto que muitas vezes durmo para a vida. Durmo na esperança de que esse pesadelo acabe. Durmo para driblar com mais facilidade as aflições e quando digo isso quero dizer que muitas vezes me escondo dos desafios, tiro o corpo fora das discussões, para não ver, para não sentir, pavor. Muitas vezes adormeço também para o novo e fico com aquele bom e velho que é o conhecido. Me retraio, saio de cena e, ausente de mim, caminho dias afora.
Quero participar da vida com toda a intensidade que ela merece. É essa a oportunidade que me foi designada e à ela quero fazer jus. Já não acredito mais em religião, muito menos em um Deus tirânico e fatal. Acredito no poder do amor e é com este que quero passar o resto dos meus dias. Para escreverem na minha lápide: "aqui jaz quem realmente amou".

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Benetton


Sou a favor de um mundo livre! De um mundo sem castas, classes, sem divisões. Não sou anarquista, longe disso, porque acredito no poder centralizado. Porém um poder limpo, ético, coerente.
Sou a favor da eliminação das massas pois acredito na possibilidade de coexistência mútua.
Sou a favor do fim das religiões pois acredito na liberdade do pensamento. Aliás, somos um Estado Laico e como tal deveríamos nos comportar. Não existe um Deus malfeitor que criou o inferno, nem tampouco existe o pecado. A lei de Deus não passa de uma criação humana. Deveria existir uma única lei: o amor e um único mandamento: agir com o coração.
Sou a favor das minorias e de sua emancipação porque não podemos retirar seu sagrado direito à existência e à felicidade.
Sou a favor de uma sociedade justa, harmônica, em paz.
Sou a favor dos casamentos, gays, de padres, de freiras, porque sou a favor do amor.
O amor é nossa única salvação.
E amar não significa não sentir raiva, nem não gritar ou não brigar. Ao contrário. Pois quem não sente raiva não vive. Amar significa admirar qualquer outro indíviduo ou não admirar e ser coerente com isso. Amar significa agir sem hipocrisia, sem falso moralismo, sem polidez desnecessária.
Amar é considerar que você é o mais importante de tudo. E estar bem significa viver bem, seja lá o que isso for, para qualquer um. Amar é se respeitar, acima de tudo. Não basta enxergar, é preciso que se veja. Abramos os olhos e abracemos a nós mesmos, com amor. A Benetton, em suas propagandas, nos abraça. Expõe toda a miséria do mundo, toda forma de exclusão, desnuda todo o preconceito e acaba com os esteriótipos. Este post é para o criador das propagandas desta marca, Toscani.

domingo, 5 de junho de 2011

Chorei


Hoje, no dia da poesia, o que fiz foi chorar
Chorei de tristeza mesmo
Tristeza por aqueles que deviam te representar alguma coisa
mas que se mostram um nada para você
Chorei por essa incógnita que é a vida
Por seus mistérios insondáveis, desconhecidos
Chorei por todos aqueles que choram todos os dias
Por eles e por mim também
Chorei porque não vejo nada de bom
só miséria
Chorei pela miséria
e por toda a glória inglória da humanidade
Chorei por não acreditarem em mim
por desvalorizarem as minhas atitudes
por zombarem da minha condição
Chorei por falta de espelho
de referência
de amizade
Chorei porque distante é o amor
e porque dele não vejo senão a miragem
E foi bom
Sentir as lágrimas escorrerem na face
alimentadas por dilacerantes sentimentos
Sentir seu calor, seu sabor
Chorei
E a raiva que vem depois do choro
Alimenta o viver
Porque a situação é irremediável
Sem a mais mínima solução
Então chorar alivia e faz dela,
um capítulo, uma poesia
Chorei
assim...
Porque chorei.

Poesia


Hoje acordei com vontade de poesia
Vontade de ver de novo, o novo
De estar em compania daqueles que realmente me amam
De estar só, ainda que só tenha conotação negativa
Hoje acordei mais feliz
Menos surda, menos cega
Hoje acordei pra vida
Mais leve, menos densa
Serena
Hoje acordei com vontade de arrethon
Sinceramente determinada a sentir o perfume das rosas
Hoje acordei mais tranquila
Menos triste
Acordei tão bem que me pergunto:
Fui eu mesma quem acordou?
Acordei com uma vontade insana de alimentar minha alma
Com frases, leituras, poesias
Sem motivo especial algum
Simplesmente assim
Com vontade de dizer a todos sim
De conversar, estar, entrar em mim
Hoje digamos que acordei a velha pessoa nova
Cheia de vida, alegre, pra cima
Sim, hoje acordei.

sábado, 4 de junho de 2011

Ainda


Isso aqui não é música sertaneja. Mas preciso dizer: ainda te amo. Você nunca lerá isso, nem nunca saberá que escrevi isso, mas mesmo assim, em uma tentaiva desesperada de fechar a ferida, eu digo: esse post é pra você. Você, que foi meu porto seguro, que me ajudou em muitos momentos, que esteve ao meu lado sempre e que me amou incondicionalmente. Me amava mais do que a qualquer pessoa no mundo e se dedicava a esse amor. Regava-o com esmero, com a mesma fidelidade de um jardineiro para com as suas rosas. Eu era e me sentia, a sua rosa. A rosa do Pequeno Princípe, que os adultos não entendem. E quando falo de você, é preciso ter um espírito de criança para entender. Porque não falo daquele amor romântico, meloso, melodramático, não. Falo de um amor companheiro, fiel, de um amor seguro. Era isso o que você me transmitia: segurança, tranquilidade, paz. Estava comigo a cada minuto, entendia meus dilemas, compartilhava de minhas dores e alegrias. Éramos eu e você no mundo, para o mundo. Quando estávamos juntos nada mais importava e tudo fazia sentido, porque você era o sentido de tudo. Mas você se foi. Quer dizer, eu fui e você ficou, com raiva, com muita raiva. E a raiva nunca mais permitiu que estivéssemos juntos novamente. E comigo ficou a dor, dor-mente. Dor que me dilacera em cada música romântica, em cada casal que vejo na rua. A dor. Ali, aqui, sempre presente. Escrevo para mandá-la embora. Aliás, dizem que quando a gente cresce, amadurece. Será? Quanto mais o tempo passa mais percebo que esta ferida não cicatriza. Ela se esconde aqui e ali mas sempre dá um jeito de aparecer de novo e de novo e de novo. Dizem que dor de amor se cura com outro amor. Até agora não encontrei ninguém disposto a me amar como você me amou, a me enxergar como você me enxergou. E você se foi para sempre. PARA SEMPRE. Sei disso. Preciso parar de pensar em você; quero te expulsar de todos os meus sonhos, te tirar de vez da minha vida. Mas ainda preciso dizer que te amo. Só hoje.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pessoa Encantada



Sabe quando uma pessoa simplesmente te encanta? Você passa a admirá-la e a querer, muito, que ela faça parte da sua vida. E não é paixão o que você sente por ela porque não há um elemento fundamental da paixão, o desejo. É muito mais admiração e respeito do que desejo. É uma pessoa que te quer bem, acima de tudo. Uma pessoa simpática, de alma bonita, gentil. Uma pessoa assim, você quer que entre e fique de vez na sua vida. Não quer mais que ela saia. Mas, infelizmente, ela vai sair. Tal qual a lua, que vive de noite, essa pessoa não veio para ficar, ao contrário, ela entrou para sair. E vai viver como sombra nas noites escuras e frias em que se transfrmarão também os seus dias... E tal qual a lua, a dor passará por fases. As lembranças irão gradativamente se atenuando, se atenuando, se atenuando... Até não restar nenhum vestígio.
Mas o processo é lento e até o aniquilamento completo da lembrança vai tempo. Aliás, será que haverá um dia em que essa lembrança cessará de existir? Já desisti de buscar essa resposta. Se alguém a tiver, que explicite-a. Agradecida!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

tem dias...

Tem dias que os sentimentos ficam incontroláveis. Hoje elegi o dia mundial da raiva. É um sentimento vampirico que te domina e te faz perder completamente o juízo. Você diz coisas que, na hora, parecem as mais verdadeiras possíveis mas depois que a raiva passa você percebe que não eram tão verídicas assim... E aí já é tarde demais, a palavra já foi dita e a pessoa, já foi ferida. Desculpas já não adiantam mais, não trazem o menor alívio, nem fazem o menor sentido.
A raiva é um sentimento tão forte que te devora por completo. Você não imagina viver sem aquele ímpeto furioso e o assunto não sai de cena. Fica voltando e voltando a mente, enlouquecida-mente. Nada mais parece existir a não ser aquela vítima da sua raiva. Argumentos abundam e tal qual água, jorram de dentro de você. Acusações pesadas, palavras muitas vezes infundadas.
Mas não há que se ter vergonha de sentir raiva. É um sentimento legítimo, como todos os outros. E quem diz que não sente está morto pra vida, anestesiado. Há que sentir raiva, perceber a sua existência e trabalhar para o seu fim. Porque também é doente viver com raiva. Assim como vem, vai. E é assim que tem que ser.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pessoas que nos são especiais...


Tem pessoas que estão em nossas vidas e signifiam muito, mas muito mesmo. E são raras as oportunidades para expressarmos o amor e a gratidão que sentimos por elas. Pessoas que nos marcam de forma especial, que deixam em nossas vidas traços e marcas que tempo nenhum pode apagar. E não temos nenhum envolvimento amoroso com elas. São amigos especiais ou familiares especiais.
Pessoas assim querem o nosso bem acima de tudo. Pessoas assim torcem por nós como se fôssemos eles próprios. Estão dispostas a se sacrificar por nós no mais extremo dos limites e reconhecem a nossa capacidade a cada segundo. Estão dispostas a perdoar os nossos erros (e assim o fazem) bem como dispostas a nos incentivar a começar de novo, do zero. Pessoas assim não recebem de nós os elogios que merecem e nosso agradecimento, silencioso, passa desapercebido. Mas são estas pessoas que eu quero, de coração, AGRADECER. Dizer obrigada por tornar a minha vida muito mais significativa e especial. Por fazer com que minha vida tenha sentido. À vocês, o meu sincero e profundo respeito. Vocês têm, em mim, uma fonte inesgotável de admiração e carinho. Muito obrigada.

Família

                                                                 
Ontem tive a perfeita sensação do que é fazer parte de uma família. Comendo pizza e frango frito, a família conversava. Cada um manifestava a sua opinião e era aceito com ela. O pai, no lugar de pai, aconselhava a filha mais nova sobre o que fazer em relação a carreira. A filha mais velha dialogava com a mãe. Contava à ela os dilemas do dia, da vida. E todos celebravam o fato de estar ali, em paz. Nada demais, nada de especial. Simplesmente família.
E o quanto é difícil quatro pessoas conviverem bem debaixo do mesmo teto. Quatro personalidades, quatro vidas diferentes, quatro pontos de vista que tem que se coadunar, conviver em harmonia. Enquanto isso é um dever, um "tem que ser assim", não dá certo, mas quando passa a ser uma opção, funciona. Pode ser assim.
Enquanto cada um quiser ditar ao outro sobre o que fazer, como ser, não vai dar certo. Quando tivermos liberdade nas relações e respeito quanto ao modo de ser de cada um, funcionará. É a nova era das relações familiares, sem confusão de papéis mas sem restrições de expressão. Cada um expressa-se como quer, respeitando também os limites do outro de não aceitar. E assim quatro pessoas vão convivendo, buscando se auto afirmar nesse caminho tortuoso que é a vida. Buscando se ajustar ou desajustar, depende das circunstâncias. Prontos para uma nova jornada, creio que é esse o espírito da minha família. Abertos a uma nova forma de conviver e de ser.